Author profile picture

Patrick Camillo

Meus pensamentos sobre: Para Toda a Eternidade, de Caitlin Doughty

ℹ️
Esta análise não tem revelações significativas acerca do enredo do livro.

Informações sobre o livro

Para Toda a Eternidade Título: Para Toda a Eternidade
Autor: Caitlin Doughty
Minha nota: ★★★★★

Análise

A morte. Sinto que talvez eu esteja me repetindo neste tema nos últimos tempos. Perdi minha avó em março de 2024 (menos de um ano atrás), e desde então tenho consumido, meio que sem querer, várias coisas relacionadas a morte e luto. Talvez eu ainda me repita mais vezes, e uma das coisas que eu tirei desse livro é: isso é uma coisa boa. Não existe problema em revisitar ou estender o luto. Não existe um limite para o que podemos fazer para sentir, entender e expressar a dor de perder um parente ou amigo querido. E as culturas de certos países deixam isso muito claro.

No livro de Caitlin Doughty, passamos pelos rituais de morte de alguns lugares do mundo e temos uma visão extremamente interessante do que as pessoas fazem para se sentir bem. Afinal de contas, o papel de um funeral é criar um espaço seguro para as pessoas que ficam. Ela relata bastante o fato de que isso, infelizmente, tem se perdido na América do Norte, com práticas predatórias praticadas pelos agentes funerários e por todo o processo em si. As pessoas são obrigadas (ou, no mínimo, se sentem obrigadas) a comprar um caixão caríssimo, a fazer o corpo do falecido passar por processos de preservação artificial que, penso eu, são desnecessários (um capricho do estado, com leis e regulamentações obrigando isso), e para completar o insulto, o processo as deixa um tempo muito curto com seus mortos. Tempo precioso e necessário para materializar a morte aos olhos de quem fica.

Gostei também que o livro normalizou e validou um pouco desse interesse que tenho sobre a morte em si. Eu nunca achei que falar ou pensar sobre morte fosse um problema, apesar de não saber dizer o porquê de ser assim. Mas a própria jornada da Caitlin ao redor do mundo para fazer a pesquisa para o livro já me garante que não existe algo errado em encarar as coisas desse jeito natural e, até certo ponto, despreocupado.

Não é que ver as culturas diferentes vá fazer com que nós mudemos os costumes e processos que temos em nosso país. Mas e se talvez mudássemos também? Que mal teria em fazer algo diferente? Penso que acompanhar essas histórias ao menos me permitiu ter uma compreensão melhor do que é o processo de perda, e a forma como falar sobre isso nos ajudaria a processar melhor.

Ao fugir da conversa sobre nosso inevitável fim, nós colocamos […] nossa capacidade de processar o luto em risco.

Não vou fazer o relato dos rituais, cerimônias e processos pelos quais ela passou. Mas fiquei muito maravilhado, tem coisa muito bonita rolando por aí.

Havia magia em cada um desses lugares. Havia dor, uma dor inimaginável. Mas não havia vergonha nessa dor. Eram lugares para ficar frente a frente com o desespero e dizer: “Estou vendo você aí esperando. E eu o sinto, com força. Mas você não me humilha”.

Eu recomendo esse livro para qualquer pessoa, em qualquer idade, de qualquer religião. Simplesmente não tem motivo para não tentar entender a morte: é o que nos espera, sempre. E quando acontecer com alguém próximo de nós, temos que saber como processar o que está acontecendo e encontrar conforto e propósito. E saber como as outras pessoas no mundo fazem isso ajuda a dar sentido ao que fazemos aqui.

Usar palitinhos para pegar osso a osso metodicamente e colocá-los em uma urna, construir um altar para convidar a visita de um espírito uma vez por ano, até tirar um corpo do túmulo para limpá-lo e trocar sua roupa: essas atividades dão sentimento de propósito a quem sofre a perda. Um sentimento de propósito ajuda a pessoa a enfrentar a dor. Enfrentar a dor ajuda a pessoa a começar a se curar dela.

#livros #non-tech #pensamentos #ptbr #leituras-2025


Comentários

Você pode usar sua conta no Fediverso (por exemplo Mastodon, e muitas outras redes) e responder a este post para comentar aqui.